O Discreto Charme da Anarquia

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Local: Itabirito, Minas Gerais, Brazil

Dom Quixote sendo derrotado dia após dia por seus próprios moinhos de vento.

21 outubro 2007

Sobre deixar de viver

Quando se toma consciência do que é a morte, quando o medo de perder a vida vai embora, o que sobra é um pavor imenso de deixar de existir. A certeza de que somos imortais para aqueles que nos amam é destruída pela simples menção da frase: "A vida continua."
Palavras de conforto tem a pretensão de apagar anos e anos de convivência, lembranças boas, ou até mesmo ruins, mas que fazem parte de uma história. E acabam conseguindo. Aos poucos a dor vai embora junto com a lembrança da pessoa que morreu e que será lembrada eventualmente, quando passar na televisão aquele filme que adorava ou então quando tocar a música que o falecido - assim será conhecido de agora em diante - gostava.
Velhos amigos da família ainda enxergarão a perpetuação daquele que se foi nos filhos devido a alguma semelhança física, do nariz grande, passando pelo corpo magro ou até aquela quase imperceptível mancha perto da orelha. E assim, aos poucos, os velhos amigos se vão e os filhos, que não querem se parecer com os pais, esquecem por querer essas semelhanças e então o fim se aproxima.
O túmulo esquecido já não recebe flores nem visitas...
Nada agora poderá trazê-lo de volta. Se tiveres feito um filho, já não será mais seu, pertencerá ao mundo. A arvore que plantou será arrancada para dar lugar a uma moderna construção. Se escrever um livro, com certeza não saberão lê-lo.
Não tenho medo da morte. Embora não queira deixar de viver, sei que é tão inevitável quanto o esquecimento. Mas porque chorar o esquecimento se a lembrança não será capaz de trazer ninguém de volta à vida?
Então que pelo menos exista um céu, para que realmente possamos descansar em paz.

Lamentações [2]

Eis o que sobraram dos meus sonhos.
Apenas uma saudade daquilo que eu poderia ter feito, daquilo em que eu poderia ter me tornado. Se tivesse outra chance encontraria uma maneira diferente de errar. Todos os caminhos levam ao mesmo lugar. Falta ousadia para tentar construir uma outra estrada. O medo de enfrentar o desconhecido esconde o verdadeiro monstro dentro da comodidade. Sei que ainda há tempo, mas a magia de enxergar além da linha do horizonte teve a sua chama apagada pelas decepções. É preciso encontrar uma maneira de despertar o sonhador que existe dentro de mim e com ele criar um realizador que jamais existiu. Criador e criatura, sonhador e realizador, tão diferentes e ligados da mesma forma por um cordão umbilical tão longo, que esticado impede que um possa ver o outro, embora mantenha a esperança de que um dia possam estar juntos (novamente?)

Ressuscitando...

"Eis porque choro
E manam lágrimas de meus olhos.
Ninguém a meu lado me consola
Nem alenta minha alma."
Lamentações 1,16