Quando se toma consciência do que é a morte, quando o medo de perder a vida vai embora, o que sobra é um pavor imenso de deixar de existir. A certeza de que somos imortais para aqueles que nos amam é destruída pela simples menção da frase: "A vida continua."
Palavras de conforto tem a pretensão de apagar anos e anos de convivência, lembranças boas, ou até mesmo ruins, mas que fazem parte de uma história. E acabam conseguindo. Aos poucos a dor vai embora junto com a lembrança da pessoa que morreu e que será lembrada eventualmente, quando passar na televisão aquele filme que adorava ou então quando tocar a música que o falecido - assim será conhecido de agora em diante - gostava.
Velhos amigos da família ainda enxergarão a perpetuação daquele que se foi nos filhos devido a alguma semelhança física, do nariz grande, passando pelo corpo magro ou até aquela quase imperceptível mancha perto da orelha. E assim, aos poucos, os velhos amigos se vão e os filhos, que não querem se parecer com os pais, esquecem por querer essas semelhanças e então o fim se aproxima.
O túmulo esquecido já não recebe flores nem visitas...
Nada agora poderá trazê-lo de volta. Se tiveres feito um filho, já não será mais seu, pertencerá ao mundo. A arvore que plantou será arrancada para dar lugar a uma moderna construção. Se escrever um livro, com certeza não saberão lê-lo.
Não tenho medo da morte. Embora não queira deixar de viver, sei que é tão inevitável quanto o esquecimento. Mas porque chorar o esquecimento se a lembrança não será capaz de trazer ninguém de volta à vida?
Então que pelo menos exista um céu, para que realmente possamos descansar em paz.